Missão Centrípeta, Centrífuga e Sanguessuga


MISSÃO CENTRÍPETA


Missão Centrípeta seria atrair as nações de fora como um ímã. No Antigo Testamento, Deus pede para que Israel seja uma bênção ali no próprio local onde está inserida, atraindo nações de fora para dentro do grupo. Deus estava sempre com o seu povo, e por isso deviam fazer com que outros povos se aproximassem para também conhecerem a salvação. No entanto, o futuro não estaria apenas nesse local. Futuramente, Deus tinha outros planos para este povo. Sair em busca de outros povos e nações.

O ser humano é pecador, já nasce em pecado, e o povo do Antigo Testamento não era diferente de hoje. Encontramos diversos textos na Bíblia em que o povo duvidou, desobedeceu, murmurou, e adorou outros deuses, ao invés do único Deus verdadeiro que os estava protegendo. Por causa da sua desobediência, Deus trazia outros povos de fora que causavam desolação, destruição, e até reinavam sobre esse povo. De acordo com Goheen, Israel deveria encarnar a intenção que Deus tinha com a criação para toda a humanidade em favor do mundo, vivendo de tal maneira que atraia as nações à aliança com Deus. Ou, usando a linguagem posterior de Isaías, a ser uma “luz para as nações” (Is 42.6) (GOHEEN, 2014, p.48). No entanto, algumas vezes Israel falhou em sua missão.

Os profetas do Antigo Testamento haviam escrito sobre a vinda das nações para Jerusalém à medida que Deus as ajuntasse, e talvez a igreja em Jerusalém, no Novo Testamento, nos primeiros capítulos de Atos ainda cresse nisso. Charles Scobie resume a mensagem profética desta forma:

Em primeiro lugar, o ajuntamento das nações é um evento escatológico [...]. Em segundo lugar, o ajuntamento das nações não é a tarefa de Israel. Frequentemente, serão as próprias nações que tomarão a iniciativa. Em várias passagens significativas é Deus que reúne as nações [...]. Em terceiro lugar, todas essas passagens proféticas anteveem as nações vindo para Israel, não Israel indo às nações. O verbo que se repete é “vir”: “virão a ti” (Mq 7.12); “As nações virão” (Is 60.3, NVI) etc. Esse movimento da periferia para o centro tem sido apropriadamente chamado de “centrípeto” (SCOBIE, 1992, p.291-292).

Aplicando aos dias de hoje, como igreja podemos testemunhar e sermos missionários centrípetos. No lugar onde estamos inseridos, fomos colocados por Deus, cabe a nós refletirmos a luz de Cristo, mostrando a salvação para a comunidade em geral.

MISSÃO CENTRÍFUGA


Missão centrífuga seria o trabalho que as igrejas realizam em mandar missionários para fora, tendo como alvo outros povos. De acordo com a imagem acima, lemos em Atos 1.8, Jesus dizendo aos seus discípulos: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra”. É importante notarmos que não são os discípulos que fazem missão por conta própria, mas é o Espírito Santo que os conduz. Deus sempre é o agente.

O termo grego para enviar é “εκβαλλω”, tem o sentido de “tirar com força” expulsar, expelir, com violência. Em física, a força rotativa que impele objetos de um centro para fora é chamada de centrífuga de acordo com o pastor Antonio Romero Filho. Como já foi dito, sempre é Deus o autor, o agente da ação, e muitas vezes permitiu perseguições em meio ao seu povo, para que assim saíssem dali, e fizessem missão para fora, sendo denominada missão centrífuga. Dá a ideia de fuga, fugir, mas há um plano de Deus.

Em Atos, as comunidades são enviadas para fora para que encarnem essa vida em cada cultura do mundo. Essa é a nova dimensão centrífuga da missão escatológica da igreja (GOHENN, 2014, p.136). Para um trabalho concreto de missão, vale ressaltar que a pesquisa, o conhecimento da cultura em que o povo vive, é um grande passo para o início dessa ação.

Vemos que no mundo há muita necessidade do povo ouvir um evangelho que salva, e não regras, leis religiosas e preceitos humanos. Por isso há um grande trabalho a ser realizado, principalmente em lugares que o evangelho ainda não chegou. “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9.37). Jesus já havia se compadecido das multidões em seu tempo, que estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não tem pastor (Mt 9.36). Não são poucos os que enganam multidões em nome de Deus, no qual veremos na missão sanguessuga.

MISSÃO SANGUESSUGA


Na história percebemos inúmeras denominações que ao longo do tempo vem sugando as suas ovelhas, ou seja, os seus fiéis. Na época da Reforma, Lutero bateu de frente com a igreja católica que cobrava valores absurdos, as “indulgências”, fazendo seus fiéis acreditarem que ao contribuir com esses valores, iriam escapar do purgatório e da condenação eterna. A Bíblia é clara, e o ser humano é justificado somente por graça, e não por obra humana ou mérito próprio. Mas infelizmente, parece que hoje estamos com o mesmo dilema daquela época. Inúmeras denominações arrecadam dinheiro de seus fiéis em troca de bênçãos maiores aqui na terra. Essa missão que ultrapassa até canais de televisão, enganando multidões, podemos chamar de missão sanguessuga.

O dinheiro é a fonte que tem atraído muitos lobos devoradores, que apenas enriquecem a si próprios e as suas ovelhas cada vez ficam mais pobres. Será que hoje não precisaríamos de uma nova Reforma na igreja?

CONCLUSÃO

A missão do povo de Deus é tanto centrípeta quanto centrífuga. Ela é antes de tudo centrípeta: o povo de Deus deve “manifestar a presença de Deus em [seu] meio, em [sua] vida compartilhada e em [seu] relacionamento com os outros” (BAUCKHAM, p.77, 2003). Uma missão centrípeta somente é possível quando a igreja “é uma manifestação radiante da fé cristã e exibe um estilo de vida atraente”, trazendo “os de fora” para a sua comunhão (BOSCH, p.414, 1991).

 

REFERÊNCIAS

- BAUCKAM, Richard. Bible and Mission: Christian Witness in a Postmodern World. Grand Rapids: Baker Academic, 2003.

- Bíblia de Estudo Almeida. Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

- BOSCH. David. Transforming Mission: Paradigm Shifts in Theology of Mission. Maryknoll, NY: Orbis Books, 1991.

- GOHEEN, Michael W. A igreja missional na Bíblia: luz para as nações / Michael W. Goheen, tradução de Ingrid Neufeld de Lima. – São Paulo: Vida Nova, 2014.

- SCOBIE, Charles. Israel and the Nations: An Essay in Biblical Theology. Tyndale Bulletin 43, n. 2, 1992.

https://christiannewsbrasil.blogspot.com/2017/03/3-tipos-de-missao-centripeta-centrifuga.html 

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