Superstições na Semana Santa

            O motivo que escolhi para falar sobre isso, é que venho de uma cultura, ou de um costume que presenciei na minha infância. Principalmente na sexta-feira santa, não podíamos brincar, sorrir, varrer a casa, comer carne vermelha e entre outras coisas. Antes de aprofundarmos o assunto, quero fazer uma pergunta: O cristão pode ou não ser supersticioso? A partir da palavra de Deus, é correto ou não é? É isso que vamos conversar no nosso estudo de hoje.

         Mas o que é superstição? Como podemos definir essa palavra? Um conceito mais sistemático seria: a crença sobre relações de causa e efeito que não se adequam a lógica formal, ou seja, são contrárias a racionalidade. Uma definição do dicionário Aurélio seria: "Sentimento religioso baseado no temor ou na ignorância, e que induz ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de coisas fantásticas e à confiança em coisas ineficazes; crendice; apego exagerado e/ou infundado a qualquer coisa". Ou seja, seria uma tentativa do desejo humano de solucionar seus problemas, através de práticas que possam manipular forças sobrenaturais para o seu próprio proveito. A ideia inclui fazer com que Deus, os anjos ou até mesmo demônios possam estar ao seu serviço.

O significado original da palavra superstição “pôr cima”, vem do latim “super = acima” e “sistere = pôr”, que seria pôr a crença acima da fé em Deus. Uma “crença” que quer saber mais do que as verdades que Deus revelou na Bíblia. Por trás disso, muitas vezes é ser como Deus para manejar forças misteriosas. Superstição, uma nova “ciência” para aqueles que não aceitam Deus como o Senhor da sua vida, daqueles que querem ser o próprio senhor da sua vida, que querem ser como Deus, e daí lembramos da serpente lá no jardim do Éden, dizendo para a mulher: “Sereis como Deus”. (Gn 3.4,5).

O Brasil, devido a mistura de raças (o índio, o negro, o europeu) é um campo fértil para as mais variadas práticas de superstições. A religião indígena, o espiritismo africano misturado com práticas supersticiosas católicas, formaram e moldaram durante estes 500 anos as crendices do povo brasileiro. Não se sabe ao certo a origem exata de como a superstição começou influenciar na vida do homem. Mas com certeza essas práticas tem sua origem nas antigas religiões da Assíria, Babilônia, Egito, Grécia, Roma. O homem apartado de seu Deus criador procura subjugar o reino das trevas através de amuletos, encantamentos, rezas portáteis e esconjuros (seriam as ditas maldições de heranças, de pai para filho), aos quais atribuem poderes mágicos.

Existem diversas superstições para várias ocasiões. Há algumas que são ligadas a avisos como: Borboletas negras = sinal de morte; Cair uma talher = visitas chegando; Vestir roupa ao avesso = recebimento de dinheiro; Sentir a orelha quente = alguém está falando da pessoa. Temos algumas que são ligadas ao azar como: passar por baixo de uma escada; sair da cama com o pé esquerdo; o número 13; entrar por uma porta e sair por outra; gato preto; colocar a vassoura virada atrás da porta para a visita ir embora; dormir com os pés fora da cama ..., e tantas outras coisas que a “sabedoria” popular tão bem conhece.

A superstição mais difundida entre os cristãos é o da sexta-feira 13. Este dia é considerado um dia de azar porque Cristo morreu em uma sexta-feira, e na última ceia haviam treze pessoas ao redor da mesa. Vejamos o que o ser humano é capaz de inventar. Ao invés da sexta-feira santa ser considerada uma lembrança da morte de Jesus na cruz por todos os nossos pecados, uma contemplação do que Cristo fez por cada um de nós, a sua obra salvadora, é transformada pela mente humana como um dia de azar. Isso é completamente sério. Olhem como isso ataca a obra de Cristo. Não estaríamos certos em dizer que isso é uma crendice absurda? Crendices encontram solo fértil para crescerem entre pessoas que não possuem base teológica para afirmarem tais coisas.

Tem ainda as superstições ligadas à medicina natural como simpatias para curar bronquite úlcera, dores e inflamações. Vemos também que nem o avanço tecnológico foi capaz de deter a superstição. Os grandes jornais que em meio às suas notícias trazem todos os dias uma sessão de horóscopos, sem falar dos programas de rádio e de televisão, em pessoas que moldam suas vidas por aquilo que os "astros" supostamente dizem ou deixam de dizer. As pessoas anseiam por coisas que determinem o rumo de suas vidas, e procuram então matérias de artes adivinhatórias.

- (2 Tm 4.3-4): “Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas”. Mestres que lhes digam aquilo que querem ouvir, e não aquilo que Deus declara em sua Palavra. Desejam ouvir algo novo e divertido. Vemos o surto da superstição no cumprimento das palavras do apóstolo Paulo.

Percebemos que o xis da questão está no fato da pessoa achar que ela mesma poderá resolver todos os seus problemas, independente de Deus. Como diz Paulo Cristiano, vice-presidente do Centro Apologético Cristão de Pesquisas: “Na proporção em que o homem se desvia do Deus verdadeiro, ele se inclinará à superstição”. A superstição é a fé desviada de seu curso natural, que é Deus. E o homem, de fato, criado à imagem e semelhança de Deus, após a queda em pecado, rompe essa relação direta com Deus. Naturalmente, o ser humano pecador não irá buscar o objeto certo para religa-lo novamente a Deus, que é Jesus Cristo. No entanto, recorre a objetos e fórmulas aparentemente mágicas a fim de resolver seus próprios problemas, sem levar em conta o que Cristo fez por ele na cruz. O orgulho humano, o desejo da independência em que “eu” não preciso de Deus, é um desvio da verdadeira fé, que é direcionada para coisas, como rezas, talismãs, cristais, pêndulos, pirâmides, entre outros.

Várias coisas tornam a superstição sedutora. A principal é a curiosidade, sobretudo com relação ao futuro. Muitas pessoas estão em busca de segurança, devido ao medo em relação ao porvir, e a astrologia é um modo que tenta fornecer as respostas a curtos prazos. Muitos constataram que se fizermos uma busca pelos jornais, revistas, rádios, televisão, buscando orientação dos astros, e compararmos, certamente encontraríamos respostas de duplo sentido e conflitantes entre si. Será que esta é a maneira correta de saber o que o futura trará? Vale a pena traçar o rumo de nossa vida baseado em interpretações como essas? E onde fica Deus nessa história? Em quem deveríamos confiar. No nosso Deus que criou a cada um de nós, e nos cuida, nos dá o nosso sustento diário, e entregou o seu próprio Filho Jesus Cristo para nos libertar de qualquer prática que pode nos afastar da fé verdadeira, ou, em seres humanos falíveis? Pensamos nisso! Vamos ver algumas causas, que levam o ser humano a procurar a superstição.

1. A ação do diabo: a primeira e a mais forte. O homem em seu interior, precisa buscar e crer em alguma coisa. Daí as diversas crenças. Todos creem. Todos têm uma fé verdadeira. Não existe uma fé falsa. A questão, é no objeto em que eu confio. O diabo, aproveitando essa necessidade do homem de crer em alguma coisa, então lhe apresenta uma vasta gama de recursos para todos os fins. - 1 Pedro 5.8: “Sejam sóbrios e vigilantes. O inimigo de vocês, o diabo, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”.

2. A insatisfação do sentimento religioso: pessoas que estão insatisfeitas com a sua religião, buscam outros meios para os seus problemas. – Jonas 2.8: “Os que adoram ídolos vãos abandonam aquele que lhes é misericordioso”.

 

3. A doença: a doença é o mal que mais aflige o homem. Por isso, no combate à doença, a superstição encontra o terreno mais propício e fértil.

 

4. O fantástico: a inclinação do homem para o maravilhoso, para o inesperado, para as intervenções do além são um grande apoio na difusão da superstição. – 1 Timóteo 4.7: “Mas rejeite as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercite-se, pessoalmente, na piedade”. Na NTLH, “fábulas profanas” e “velhas caducas”, é traduzido como “lendas pagãs e tolas”. Há aqui uma exortação à fidelidade no ministério, à Timóteo, alimentado na Palavra de Deus, e não em contos mundanos, ou néscias superstições que não merecem a atenção de um cristão, pois confundem a mente humana. Bürki, em seu comentário bíblico diz que esse versículo é uma alusão à magia negra praticada por mulheres. Práticas de magia e superstição eram amplamente difundidas em Éfeso, a capital das artes ocultistas. Hendriksen, outro comentarista, diz que são superstições que velhas senis (idade avançada) costumavam esforçar-se para ensinar aos seus vizinhos e seus netos.

 

5. A curiosidade: o desejo humano de tudo saber, tudo experimentar, é outra fonte que apoia o crescimento da superstição. No caso da curiosidade, desempenha o papel da cartomancia (leitura do futuro pelas cartas), e a quiromancia (leitura do futuro pelas mãos), no qual podemos também destacar o horóscopo.

 

6. A literatura supersticiosa: que invadiu o mercado livreiro. Livros como: O Manual das Cartomantes, O Livro dos Sonhos, Guia Astrológico, entre outros.

Uma outra razão que leva alguém a se aproximar das superstições é a necessidade de proteção contra possíveis “forças ocultas” que possam trazer perigos à sua vida. Assim, o excesso de crença em coisas ocultas, leva pessoas a temerem o mau-olhado, a macumba e a feitiçaria. E para combater tais males, as pessoas se entregam a outras práticas da mesma natureza. Esse ciclo vicioso faz do indivíduo uma presa fácil da superstição.

Vale lembrar, que muitos querem conquistar a divindade ou tornar-se um deus. Isso leva muitos ao submundo do ocultismo, do esoterismo, achando que estes lhes conferirão a fórmula da divindade. No entanto, se esquecem de duas verdades fundamentais. Primeira: Só existe um Deus. Segunda: Você não é Deus! E nem poderá ser.

O povo de Israel, foi severamente punido pelo próprio Deus por se envolverem com práticas supersticiosas. Mesmo antes de entrarem na Terra Prometida, Deus lhes havia dito: - Deuteronômio 18.9-14: “Quando vocês entrarem na terra que o SENHOR, seu Deus lhes der, não aprendam os costumes abomináveis daqueles povos. Que não exista entre vocês ninguém que queime o seu filho ou a sua filha em sacrifício, nem que seja adivinho, prognosticador, agoureiro, feiticeiro, encantador, necromante, praticante de magia, ou alguém que consulte os mortos, pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR, o Deus de vocês, está expulsando esses povos de diante de vocês. Sejam perfeitos para com o SENHOR seu Deus. Porque as nações dessa terra que vocês vão possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhos; mas o SENHOR, o Deus de vocês, não permitiu que vocês fizessem tal coisa”. Á medida que Israel ia adentrando à Terra Prometida, era exposto às influências de práticas ocultas das nações vizinhas. Se deparavam com um grande desafio. Se permaneceriam fiéis ao Senhor, ou o abandonariam? E hoje, levemos em consideração a quem vamos dar ouvidos. Assim, como um pai protege o seu filho advertindo-o, encorajando-o, assim Deus nos vem em sua Palavra, nos advertindo a respeito das armadilhas e ciladas.

Várias práticas supersticiosas podem parecer-nos inocentes, mas não são. Conforme a Bíblia, o próprio Satanás, o príncipe dos demônios, transforma-se em “anjo de luz” (2 Coríntios 11.14). Conforme João 8.44, lemos também que o diabo é o “pai da mentira”. Por meio dessa tática muitas pessoas são postas em contato com o poder das trevas sem saber. A intenção do diabo é tentar levar as pessoas a confiarem em objetos, fórmulas mágicas, mandingas, feitiçarias, astrologia, entre outros.

Uma das consequências que a superstição pode trazer, é a “perda da fé cristã”. O supersticioso deixa de crer e confiar na obra salvadora de Cristo, e passa a confiar em outros caminhos, e que tais práticas o tragam proteção.       

Muitos podem estar agora me perguntando, mas por que às vezes dá certo? Quantas benzedeiras curam verrugas, bronquites, tudo isso é curado por elas. No entanto, podemos dizer: não é a benzedeira que cura, nem qualquer tipo de superstição pode fazê-lo. O que acontece em casos de cura pode ser explicado pela psicologia aliada à medicina. A reza, a simpatia ou qualquer outra coisa supersticiosa não tem força em si. O efeito vem da sugestão. Existe uma outra possibilidade da superstição dar certo. Uma possibilidade que jamais deve ser descartada é a ação satânica. Satanás com seu poder maléfico, para desviar os homens de Deus, da fé cristã, pode também fazer com que algumas vezes a superstição dê certo, a fim de manter as pessoas presas naquele engodo. A intenção do diabo é que as pessoas se apoiem em tudo, menos em Deus, que não deem importância à sua Palavra. Também que desviem o foco central da fé cristã, que é Jesus Cristo. Somente Jesus com sua obra redentora pode nos dar salvação eterna, para todos os que creem verdadeiramente Nele. Muitas vezes a nossa vida não é mar de rosas, mas Deus nunca nos abandonará em nenhum momento. Seja qual for a situação, Deus será sempre nosso socorro e auxílio. Como lemos no Salmo 46.1: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. Tudo isso revela o amor e o carinho desse Deus por nós, que nenhuma prática supersticiosa poderá substituir.

No entanto, é possível libertar-se do poder da superstição? Sim! Como lemos em João 8.32, Jesus dizendo: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. E ainda no versículo 36: “Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres". Quem reconhece a suficiência de Cristo, pode abandonar práticas supersticiosas. No livro de Atos 19.18-20, relata que um grupo de pessoas supersticiosas, envolvidas com artes mágicas, após confessarem a fé em Jesus Cristo, reuniram seus livros de fórmulas mágicas (que eram caríssimos) e os queimaram diante de todo o povo. Vemos que a feitiçaria é cara, e quanto dinheiro hoje também pessoas, inclusive pobres, carregam às benzedeiras e aos adivinhos. Em Cristo, todos os nossos pecados foram perdoados, e podemos excluir de nossas vidas tudo aquilo que nos desvia da fé, e faz crermos em outros caminhos.

Cristo veio para nos libertar das crendices e superstições. Cristo na sua morte, destruiu as obras do diabo. O diabo ainda se manifesta, mas ele não tem poder sobre Deus. Cristo conquistou para cada um de nós, a vitória completa. Apenas confiar em Cristo, sabermos que Ele cuida de nós. Não precisamos viver dependendo de rezas, encantamentos, amuletos, plantas ou qualquer espécie de artifício para livrar o mal. Objetos não tem poder. Se temos um Deus para nos ouvir, porque não nos dirigirmos a ele? Sobre isso, lemos em Isaías 8.19: Quando disserem a vocês: Consultem os médiuns e os adivinhos, que sussurram e murmuram, será que um povo não deveria consultar o seu Deus?”. Não devemos buscar nas coisas de baixo uma adivinhação das coisas de cima. Temos a Palavra de Deus revelada, para consultar, o que precisamos saber. Jesus é o caminho, a verdade e a vida.

Podemos abandonar a superstição. Reconhecendo que é um pecado, confessar a Deus e abandonar tais práticas e resistir a esse pecado. Por fim, crer que Jesus Cristo é suficiente. Como sabemos, por questões de cultura, algumas práticas que muitos fazem dentro de casa (como colocar a vassoura virada atrás da porta, colocar roupa do avesso, dormir com os pés fora da cama, etc), não seria uma ofensa a Deus, desde em que eu não confie que isso tem poder.

Nessa semana santa, sabemos que muitas pessoas acabam praticando muitas superstições. A questão é que muitos acabam se apegando tanto a isso, que chegam a ficar com medo, que se fazerem ou não fazerem tais coisas serão castigados. No entanto, vamos refletir sobre tudo o que foi falado hoje, e olharmos para Cristo na cruz. Amanhã é sexta-feira santa, e podemos olhar para Cristo, para a sua morte, o que Ele fez para salvar a humanidade. Não devemos ter medo, mas confiar nesse Cristo, no seu amor, para prosseguirmos aqui neste mundo. Não precisamos de amuletos para resolverem os nossos problemas. Encha-se do conhecimento de Cristo, do seu amor, por mim, e por você.

REFERÊNCIAS

DAMIANI, E.M. Superstição no esporte. Dissertação (Mestrado em teoria e prática)- Centro de Desporto, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis- SC, 2005.

https://omovimentogospel.blogspot.com/2009/03/sexta-feira-13e-agora.html?m=0

https://www.bastidoresdanet.com/2014/04/supersticao-e-crendices-voce-acredita.html

https://www.iepaz.org.br/supersticao-e-crendices-voce-acredita-nisso/

http://www.cacp.org.br/a-seducao-da-supersticao/


 


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